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Você provavelmente já deve ter ouvido falar em “The Marvelous Mrs Masel”, e se ainda não ouviu, fica aí uma dica de excelente entretenimento. A série da Amazon Prime Video é muito mais do que um drama bem-humorado sobre o início da comédia stand-up nos Estados Unidos. Ela é um retrato da tensão entre o riso e a repressão, entre o humor e os limites impostos pela sociedade, pela moral e pelo Estado. E aqui, entra o protagonista real dessa história: o humor ácido.
Esse tipo de humor é, em essência, um espelho incômodo. O objetivo não está em apenas rir da tragicomédia que é a vida, mas provocar, escancarar o absurdo, expor a hipocrisia. É a risada que vem com uma pontada de culpa e é justamente por isso que ele tem sido, historicamente, uma das formas mais poderosas de crítica social.
Na série, Midge desafia o status quo da época com tiradas que questionam o papel da mulher, a religião, a política e a moral. Assim como ela, comediantes da vida real, especialmente nos anos 50 e 60, enfrentaram as consequências de ultrapassar o “bom tom” estabelecido. Não soa familiar? Nomes como Lenny Bruce se tornaram símbolos desse tipo de humor, junto a outros humoristas que passaram por censura, retaliações ou perderam espaços na mídia.
Curiosamente, o mesmo espírito provocador do humor ácido começaria a transbordar para outros territórios da comunicação. A publicidade também passou a desafiar padrões para se conectar com o público, satirizando situações reais e pensamentos populares. Ícones como o personagem “Tiozão da Sukita”, com humor direto e irreverente, e campanhas marcantes como a do Boticário com Mariana Ximenes, que utilizava frases de duplo sentido para o dia dos namorados, mostraram que provocação é o caminho mais eficaz para chamar a atenção. Assim como os comediantes nos palcos, as marcas passaram a entender que ser autêntico e até polêmico, muitas vezes, funciona melhor do que seguir a fórmula de ser o “bom samaritano”. Mas o que aconteceu com a era de ouro da publicidade?
Sempre é bom lembrar que a liberdade, seja de expressão ou de imprensa, é o que permite que ideias circulem e que pensamentos sejam confrontados. O humor ácido, a sátira política e as campanhas publicitárias cumprem o papel de modular e questionar os limites do discurso, garantindo que o pensamento livre continue existindo. Até porque, esse direito não foi concedido, mas conquistado. Mas em meio à cultura cibernética, será que ele ainda está realmente seguro?
Há muito tempo se tem debatido a cultura do cancelamento, que embora tenha surgido como resposta à responsabilização por discursos ofensivos, acabou se tornando um ambiente hostil ao pensamento livre. Em vez de estimular o debate, impõe o silêncio, transformando discursos e manifestações artísticas, frequentemente interpretativos ou fora de contexto, em sentenças definitivas. O medo de ser “cancelado” inibe a criatividade, sufoca opiniões divergentes e empobrece o diálogo público.
No Brasil, é muito comum que o público confunda o artista com o personagem que ele interpreta, resultando em julgamentos precipitados e até ataques pessoais. Não muito tempo atrás, a atriz Marieta Severo levou uma pedrada na rua por conta da vilã que interpretava em uma novela. Se ainda temos dificuldade de diferenciar o que é arte (seja do absurdo, popular ou interpretativa) e o que é discurso real, precisamos questionar até que ponto a sociedade brasileira e o estado podem ditar os limites da comunicação.
Ainda está esperando falarmos do caso Léo Lins? Ah, não. Essa pauta é muito maior do que ele.